terça-feira, 16 de julho de 2013

Flor, negra flor


Cheguei tímido como a criança que ainda sou. Ela me ofereceu uma cama grande cheia de almofadas como quem oferece uma xícara de chá quente numa noite fria. Tive medo, confesso. É que mãe e pai sempre me falaram para não falar com estranhos. Mas negar não era uma opção. Há mulheres que são donas de si e de nós, e isso não é negociável. Fui e praticamente não dormi. A pele quente e negra encostava na minha perna e roubava qualquer tipo de tranqüilidade.  Sabe Deus como consegui resistir. O amor e o desejo quando são viscerais assustam, principalmente às crianças.

Mas era inútil, tudo em mim já pertencia a ela, pensamentos, sonhos, medos, desejos. No dia seguinte foi a mesma coisa. Sua cama era macia como areia movediça e eu me deixei ir como uma Naja à flauta de um encantador. Até mais fácil que isso. O barulho dos corpos nos lençóis rasgava as paredes de barro do quarto. Nossa respiração dizia tudo aquilo que nunca será dito. Sua pele era quente como um dia de verão. Éramos amantes recentes de uma vida inteira.


O sol raiou e todos acordaram. Em nosso olhar não havia nada de perguntas, nada de explicações, nada de medos. Éramos um do outro como sempre fomos e sempre seremos. Há mulheres que são donas de si e de nós, e isso nunca é negociável.