terça-feira, 27 de maio de 2014

Presente-palavra

              

              Alta. Cabelo escuro e cacheado. Sorriso largo e olhar desconfiado. Carrega no andar toda a ginga e a malícia que só as morenas tem. Mas que não se meta a besta com ela, que a fama da sua Ponteira é longa. Invocada, braba, debochada e tão amada por todos nós. Sim, ela é minha amiga. E que sorte eu tenho de poder ter uma amiga assim, tão grande, tão pura, tão boa. É como olhar pra uma montanha bem alta que mesmo de longe, mesmo sendo só montanha, já mostra o quanto a gente ainda pode subir. Sempre pronta pra ouvir, brigar, abraçar, rir ou até mesmo nada disso. Só estar ali. Porque a amizade de verdade não precisa de conversas, explicações, atualizações. Ela fala nos silêncios, desabafa nos vazios e conforta nos olhares. E além do mais, se for pra falar, o mundo vai acabar e ainda não vai dar tempo de explicar o porque todo mundo gosta tanto dela. Com o maior carinho do mundo ela procura em cada pessoa o seu melhor aspecto. E pode escrever, quando ela começar a te chamar de 71, é certo... abriu o seu coração. É a mãe de dois moleques especiais e esposa de um grande homem. Mas eu sempre achei que ela na verdade nasceu para ser mãe do mundo. E que grande sorte eu tenho em estar perto dela, essa grande amiga. E poder ver alta, alegre e sábia a montanha no horizonte brilhar.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Oke Oxosse

                 

             Eu sou filho do mato. Meu sangue é de seiva,  minha veia, cipó. Nunca paro. Não tem teto de palha que me cubra. Minha casa fica na planta do meu pé. Sou filho do vento que corre cortando a mata. O meu olho é a flecha. A única flecha. A rápida flecha. Eu sou filho do medo. Da tocaia, da espera, do confronto, da vitória. E da próxima caça. Sempre é a próxima. Sou filho do silêncio. Barulho de folha pisada, galho quebrando, fugindo assustada. Sou filho da folha, da terra húmida, da água da cascata. Peito aberto rompendo floresta. Sou filho da lua, da noite escura, do amor de riacho. Sou filho do velho. Fumaça, maráca, banho de erva. Venho do lugar aonde você nunca vai poder pisar. Calado, sozinho, armado. Eu sou. 
Sou filho do rei.