segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Asa de borboleta


Asa de borboleta, de que maneira você me faz sentir assim tão leve. Sopro de vento, de que maneira me faz sentir assim tão folha seca. Raio de sol, de que maneira me faz sentir assim tão semente que brota. Tão superlativo que medos viram virgulas, que os pontos nunca são finais e as interrogações viram respostas. Água de rio, de que maneira me faz sentir tão mar. A te receber, a te admirar, a me adoçar do salitre de dias corridos. Pétala, de que suave jeito você me faz assim sentir.
Palavra a palavra, gesto que inspira, olhar que acaricia. Amor, de que maneira você me faz me sentir assim tão feliz.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Eparrei



É sentir que o peito vai estourar.
Que seus pés vão sair do chão.
Um vontade de rodar, e rodar e rodar.
Perder o controle das mãos.
Se sentir como espada cortando o ar.
E nos olhos o trovão.
É uma vontade de gritar, lá do alto gritar
e o vento agitar com o leque na mão.
É ela no fogo, e não se queima.
É ela o fogo e não se queima
É ela do fogo e não se queima.
É brisa, é raio, é trovão.
É vento, é fogo, é furacão.
É Oya no meu corpo, meu coração.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Coragem


Essa noite não consegui dormir. Rolava na cama ouvindo vozes que gritavam besteiras. Sentia no meu corpo dores de discursos não pensados, de palavras inconsequentes. Nas costas vinham chicotadas de um ódio sem a menor explicação. A cabeça pesava sem nem bem entender o porquê. Porque de tanta raiva, de tanta mágoa, de tanto fogo nos olhos. Tentava dormir e não conseguia. Um medo do mundo ser assim, tão bobo, tão superficial, tão frouxo no sentir. Feio bonito, gordo magro, alto baixo, bom mau. E enquanto ajeitava o travesseiro, me deu vontade de chamar o mundo todo num canto, colocar as pessoas sentadas umas do lado das outras até elas fazerem as pazes com os irmãozinhos. Me imaginei fazendo isso e ri. Ri e achei que isso era possível. Mas eu ainda não conseguia dormir. Rezei. Pedi aos meus santos que me ajudassem a dormir. E que me dessem, no dia seguinte quando eu acordasse, a coragem para amar. 

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Amor de mãe



          Ventre do meu ventre. De que maneira você cresceu assim tão rápido e de água virou copo? Onde foi que me perdi? Ainda tenho a sensação que vou encontrar aquela sua boneca preferida no meio do seu armário. Que nada! Ontem o meu sapato era brincadeira e hoje sou que te peço o batom emprestado. Minha menina. Por que hoje, vendo você sair de casa, eu me lembrei da dor do parto? Logo eu, que tanto insisti pra você arrumar o quarto. Mas vai filha minha, desmancha teu ninho e voa. Vai viver ilusão porque um céu se faz de nuvem. Vai ser mulher que eu vou estar sempre aqui sendo mãe.Vai que um dia você vai entender.


         Que saco! Como pode uma pessoa que a gente  ama tanto ter a capacidade de nos tirar do sério em tão pouco tempo. Eu cresci, aceita isso! Não sou mais a menininha que brincava com o seu vestido. Quero ser eu, me descobrir, e com você me amando assim não dá! Mas também não precisa chorar, você sabe que não foi isso que eu quis dizer. Mas é que você fala de um jeito, que sei lá, me deixa tão confusa. Tem horas que eu não sei quem tá falando, se sou eu ou se é você. E me dá um medo de não saber ser eu sem ter você por perto, entende? Medo de ficar sem colo, sem ombro pra chorar. De nunca mais poder ser menina de novo. Eu vou mãe, eu quero ir. Quero descobrir tudo que a vida tem pra me dar. Eu vou ser feliz mãe, eu sei que vou. Mas posso pedir um favor, um último favor? Não desmonta meu quarto, não dá minha boneca nem me nega seu colo. Não sei ser eu sem você mãe, não sei. 

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Camaleão



Mais é camaleão esse bicho danado para mudar de cor e de galho. E eu que com tempo fui aprendendo a tirar dos meus pés e sonhos a rigidez das âncoras de realidade ainda me impressiono vendo esse fenômeno da natureza.
Mais é camaleão esse bicho danado que mesmo mudando sempre se demora em ser um pouco verde, depois um pouco marrom, um pouco castanho e por aí em diante. Pode mudar sempre, mas não quer. Quer largar-se um pouco em cada lugar, viver, sentir, amar. Ser um camaleão diferente em cada galho que parar. Mais é camaleão aquele bicho danado que não copia tronco, não remeda cor e não se esconde, se transfigura. A pele é a mesma, o olho atento também, a ferramenta-lingua é a mesma, mas o corpo não. Muda e namora cada espécie diferente de casca que passa perto.
Mais zé camaleão um bicho danado que traz de Deus o dom de se mudar. E de tão distraído entre andanças e permanências nunca se deu conta de que é assim. Que essa capacidade de transformar faz parte do que ele é. E quando muda de galho, não carrega concha de caramujo nem casco de tartaruga. Traz a coragem à pele nua.
Mais Zé Camaleão, esse bicho danado, me mostrou muita coisa sobre como viver. Que parar em um galho não é nada, que para ser camaleão temos que ser um pouco como cada galho do caminho, cada folha seca, cada árvore grande. Porque amar é mudar de cor.  Me mostrou que somos o que queremos ser. Basta mudar de galho, basta mudar de vista, basta mudar de vida.
Mais Zé Camaleão, esse bicho danado, quando você pensa que mudou ele já mudou outra vez.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Ciranda

         Acostumou-se tanto a viver na neblina de amores fugazes que o nascer do sol lhe machucava os olhos. Aprendeu a nadar no raso, a crer no instante, ao carinho no conta gotas, ao gozo de fruta de época. Escrevendo juras de amor em água de rio. Soltando sorriso ao vento. Crescendo palafita em chão de pedra. Como uma criança de orfanato tinha um medo enorme de ser feliz. Era tão grande esse medo que tinha vontade de correr de volta pro seu lugar nenhum. Mas era cobre o brilho dos olhos dela. E tinha um jeito tão especial de se derreter no seu colo que decidiu tirar da gaveta o seu coração de retalhos e colocar no parapeito da janela. E deixou a lua escolher qual ciranda de roda as próximas estrelas iriam dançar. 

terça-feira, 27 de maio de 2014

Presente-palavra

              

              Alta. Cabelo escuro e cacheado. Sorriso largo e olhar desconfiado. Carrega no andar toda a ginga e a malícia que só as morenas tem. Mas que não se meta a besta com ela, que a fama da sua Ponteira é longa. Invocada, braba, debochada e tão amada por todos nós. Sim, ela é minha amiga. E que sorte eu tenho de poder ter uma amiga assim, tão grande, tão pura, tão boa. É como olhar pra uma montanha bem alta que mesmo de longe, mesmo sendo só montanha, já mostra o quanto a gente ainda pode subir. Sempre pronta pra ouvir, brigar, abraçar, rir ou até mesmo nada disso. Só estar ali. Porque a amizade de verdade não precisa de conversas, explicações, atualizações. Ela fala nos silêncios, desabafa nos vazios e conforta nos olhares. E além do mais, se for pra falar, o mundo vai acabar e ainda não vai dar tempo de explicar o porque todo mundo gosta tanto dela. Com o maior carinho do mundo ela procura em cada pessoa o seu melhor aspecto. E pode escrever, quando ela começar a te chamar de 71, é certo... abriu o seu coração. É a mãe de dois moleques especiais e esposa de um grande homem. Mas eu sempre achei que ela na verdade nasceu para ser mãe do mundo. E que grande sorte eu tenho em estar perto dela, essa grande amiga. E poder ver alta, alegre e sábia a montanha no horizonte brilhar.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Oke Oxosse

                 

             Eu sou filho do mato. Meu sangue é de seiva,  minha veia, cipó. Nunca paro. Não tem teto de palha que me cubra. Minha casa fica na planta do meu pé. Sou filho do vento que corre cortando a mata. O meu olho é a flecha. A única flecha. A rápida flecha. Eu sou filho do medo. Da tocaia, da espera, do confronto, da vitória. E da próxima caça. Sempre é a próxima. Sou filho do silêncio. Barulho de folha pisada, galho quebrando, fugindo assustada. Sou filho da folha, da terra húmida, da água da cascata. Peito aberto rompendo floresta. Sou filho da lua, da noite escura, do amor de riacho. Sou filho do velho. Fumaça, maráca, banho de erva. Venho do lugar aonde você nunca vai poder pisar. Calado, sozinho, armado. Eu sou. 
Sou filho do rei.

segunda-feira, 24 de março de 2014

"Quando eu me chamar saudade"

Desculpe, mas sinceramente acho deprimente o modo como a sociedade, inclusive uma grande massa “instruída” consome tragédias hoje em dia. Replicam e divulgam imagens de Amarildos, de Claudias e de tantos outros, transformando-os em heróis pos-mortem. Sinceramente, não são heróis porque morreram de forma humilhante, de forma absurda. Me parece tão cruel fazer isso. Longe de menosprezar a tristeza que suas mortes representam, mas me questiono sobre a maneira como vêm transformando seus rostos em símbolos, estilizados e enfeitados. Milhares de pessoas vivem no Brasil de uma maneira tão cruel que faz a morte parecer um caminho suave. Centenas de moradores de rua, de flagelados da seca, de moradores de lixões, e tantos outros vivem em seu dia-a-dia uma realidade que a grande maioria de nós não tem nem sequer a capacidade de imaginar, e muito menos o estômago para enfrentá-las. Os símbolos são necessários para que possamos questionar e afirmarmos o que somos e onde estamos, mas devemos tomar cuidado para que esse processo não seja apenas um chazinho quente para nossa culpa burguesa. Algo que nos faça sentir justiceiros, conscientes e caridosos. Acredito muito mais nos heróis do cotidiano, aqueles que estão conosco em todos os momentos das nossas vidas e que esses sim podem receber de nós as homenagens pela bravura, coragem, força e determinação que são obrigados a ter para seguirem vivendo. Esse povo que luta todo dia está do nosso lado. Como diria Nelson Cavaquinho: “Se alguém quiser fazer por mim, que faça agora.” E aos que se foram de maneira injusta, cruel e absurda deixo minha indignação e minhas preces. 

segunda-feira, 17 de março de 2014

Soltas ao vento

Sou um pouco mulher porque tudo que em mim habita se fez ou se faz de carícias, de sonhos emaranhados em longos cabelos, de um jeito suave de olhar. Sou um pouco mulher porque assim posso chorar sem ter motivo. Posso ser fonte, posso ser lago, posso ser oceano. Sou assim e disso sou feito. De um beijo-brisa, de um corpo-vulcão, da angústia de uma flor em botão. De vento sem rumo, de sol e sorriso, de lua fazendo maré por dentro.

Sou um pouco mulher porque esse é o jeito que tenho de ser mais eterno, mais dividio, mais real. É o jeito que tenho de ser mais AMOR.

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Na falta da tua voz, me entrego ao barulhinho das ondas do mar.

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Uns diziam que ele estava errado. Mas quem nunca construiu seu castelo de areia na beira do mar? E depois de ver a maré subir, abandonou seus olhos à linha do horizonte?

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Moço, suspende o café!

           

Moço, por favor suspende o café! Não tá dando para viver com o coração batendo acelerado desse jeito. Tem vezes que parece que vai explodir o peito, criar asa e virar passarinho. Não. O café só faz piorar tudo isso.

Moço, por favor, suspende esse cafezinho! A cafeína é boa para acordar, mas tem hora que a gente precisa mesmo é ficar quietinho e aprender com o barulhinho do vento. E tem mais. Ninguém consegue pensar nessa agitação toda e às vezes a gente tem que pensar, até pra pensar que isso vai resolver alguma coisa.

É moço, hoje não vai ter cafezinho não! É que café parece que rouba a atenção da gente. Faz o caboclo ficar agitado, e sair ligeiro querendo sarar todos os problemas da humanidade. Eu tô precisando é desatentar e ver que o que não tem solução solucionado está.

Mas moço, e se a gente pingar o café? É moço, pingar. Aqui no Rio a gente chama assim: pingado. É isso moço! Me dá um pingado, mais leite por favor. Não moço... bem mais clarinho, mais clarinho pra ver se me acalma. E olha que nunca fui chegado a tomar leite. Mas não é verdade que acalma mesmo. To melhor. Deve ter a ver com coisa de mãe né? Porque não tem nada melhor pra acalmar do que colo de mãe. Às vezes parece que a gente fica correndo, correndo, tonto sem entender nada, mas quando cai no colo da mãe tudo se resolve. Essa idéia de pingar o café foi boa. Obrigado moço. To calmo agora.

Mas perai moço, o senhor ta querendo me enrolar? O que o Senhor quer? Quem disse que eu quero ficar calmo? Quem disse que eu quero ver a vida passar deitado no colo da minha mãe? O que? Café? Que história de café coisa nenhuma, sai com isso pra lá. Não preciso de nada disso. Preciso só parar de tentar frear a vida a todo custo. Não beber, não fumar, não pensar, não sofrer, não chorar, não amar. Chega. Quero mais é abrir esse peito-gaiola e deixar bater asas meu coração-passarinho. Voar, voar, voar. Até fazer ninho de alegria em um sorriso-flor.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

CAPRICHOS DO CORPO

As vezes sinceramente penso se devo levar esse raio de vida tão a sério. Não é possível!

Minha mãe fala que sou uma pessoa especial, mas to começando a acreditar que tenho algo anormal em minha constituição física, psíquica, mágica e porque não espiritual. Vejo o resto da humanidade levando vidas totalmente normais. Digo por normais as pessoas que bebem, usam drogas, dormem pouco, tem profissões estressantes, enfim, as características que igualam a grande parte das sociedades. Mas parece que meu corpo e todas as forças interplanetárias, não me permitem fazer parte desse grupo, e fazem uma espécie de bullyng comigo. Minha mãe também acha que eu sou o homem mais boêmio que existe no Rio de Janeiro, talvez só comparável a um Noel Rosa. Longe disso, minha vida noturna é quase a de um senhor de 80 anos que sai alguns dias da semana para dançar.

Mas quando nosso corpo começa a apresentar mais exigências do que possibilidades, e eu ainda não passei dos 80 anos, é preciso pensar em quais caminhos podemos seguir para saciar as necessidades desse corpo cheio de vontades. E antes que alguém pense, não. Não estou grávido.

Já sigo uma linda religião e a pratico com respeito, consciência e amor. Eu me considero uma pessoa ética (dá até vergonha de falar isso hoje em dia) e que não faz o mal para ninguém (ops, outra coisa que devo me envergonhar?). Bom amigo, bom filho, bom homem, alguém que tenta levar a vida da melhor maneira, para si e para os outros. É verdade, sou debochado e sarcástico, mas quem observar direito vai ver que só faço isso para rir de mim mesmo, porque na verdade gosto de rir das minhas piadas porque elas me fazem sentir engraçado.

As vezes penso em virar monge, mas confesso que celibato o corpo ainda não tá exigindo. Outras penso que vou ficar louco, dar um enlouquecida definitiva e poder viver na doce liberdade que só os malucos podem gozar (sei que isso é mentira, que há muito sofrimento nisso. Mas o pensamento é meu então deixa eu achar que ser louco é poder fazer o que quiser.). Penso se devo procurar formas de meditação, de encontro com o meu eu, de harmonização. Mas a verdade é que não acredito muito nisso. Somos caóticos por necessidade e por característica. É o caos que move, a insegurança que avança e a necessidade que cria.

As vezes penso também em largar tudo e ir viver no meio do mato, me entregando a mágica simplicidade da vida rural. Mas em 5 minutos me dou conta de que isso também é tudo romantismo baseado em Monteiro Lobato, Almeida Junior e Mazzaropi. E penso, penso, penso qual são os caminhos que meu corpo quer que eu siga.

É óbvio que não faltam pessoas cheias de sugestões. Os seres humanos são dotados de polegares opositores e da capacidade em resolver o problema da vida, dos outros. Como amigo devotado, sempre ouço. Ouvir é a faculdade que nos faz viver em sociedade, muito mais do que falar. É só trabalhando essa capacidade que podemos manter harmônicas nossas relações sociais.

Depois de tanto raciocínio, em vão é obvio, nenhum caminho parece claro. E o corpo ainda a pedir com a mesma persistência de uma criança mimada. Começo a rir olhando pro teto e chego a conclusão de que pensei demais. E pensar demais não serve para nada, é só um jeito que nós seres humanos achamos para nos sentirmos mais especiais que os pobres macacos. Pensar e levar a vida tão a sério deve ser uma tremenda bobagem. Somos partículas criadas para sermos felizes e dar risadas. Se não for pra isso não tem o menor sentido. Se não for por isso não tem o menor sentido. Então eu vou rir de tudo isso, e se meu corpo reclamar, vou rir dele também... rir e rir até ele cansar de bancar o sério e começar a rir comigo. E vamos sentir nossas bochechas doerem de felicidade. Porque nada mais faz sentido, senão ser assim.