terça-feira, 3 de junho de 2014

Ciranda

         Acostumou-se tanto a viver na neblina de amores fugazes que o nascer do sol lhe machucava os olhos. Aprendeu a nadar no raso, a crer no instante, ao carinho no conta gotas, ao gozo de fruta de época. Escrevendo juras de amor em água de rio. Soltando sorriso ao vento. Crescendo palafita em chão de pedra. Como uma criança de orfanato tinha um medo enorme de ser feliz. Era tão grande esse medo que tinha vontade de correr de volta pro seu lugar nenhum. Mas era cobre o brilho dos olhos dela. E tinha um jeito tão especial de se derreter no seu colo que decidiu tirar da gaveta o seu coração de retalhos e colocar no parapeito da janela. E deixou a lua escolher qual ciranda de roda as próximas estrelas iriam dançar.