quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Amar sob os trópicos


Só se tem a verdadeira noção do quanto são efêmeras as cartas de amor quando nos vemos diante da imensidão branca de um papel. É tudo tão insuficiente, tão óbvio, tão redundante que o nosso senso crítico nos impede, na grande maioria das vezes, de seguir adiante. Mas se existe algo mais infantil, mas ingênuo e humano do que uma declaração de amor eu desconheço. Somos seres sob duas pernas com polegares opositores e que amam. E o que é o amor? Mais cretino ainda seria perguntar. Mas não é só a saudade uma palavra especial do português, o amor também é. E pra isso que eu estou escrevendo. Para explicar o inexplicável sentido do amor em português. Porque talvez o meu seja analfabeto, talvez estrangeiro, talvez seja inocente, talvez seja leviano e talvez seja até verdadeiro. Fazer o que se tenho essa dúvida? Uma dúvida lingüística e apaixonada de saber se você sabe o que está dizendo.

O amar sob os trópicos é sentir nas marolas do mar o cheiro do seu amor. É fingir que se esquece da vida, andar de noite na beira da praia e confundir o reflexo da lua na areia com o brilho doce dos pêlos loiros do seu corpo. É olhar para o céu e só conseguir ver as mínimas manchas amareladas de seus olhos azuis no brilho de uma enorme lua cheia. É perder-se nas memórias como quem entra de olhos vendados em um labirinto, e ignorar o perigo de nunca mais se encontrar. Amar aqui na minha terra é se distrair entre outras coxas pensando nas suas. E encontrar em tantos outros sabores a falta que o seu faz. É nem sequer chorar por essa falta, por essa distância. Porque é impossível chorar quando se tem na memória o brilho de um sorriso, por mais enorme que seja o vazio deixado no peito, na cama e na vida. É viver em uma felicidade descontrolada de criança com presente novo. É jogar-se. Viver-se no amor ao outro. E como em português não há amor sem saudade, é vivê-la como um trunfo. Como um prêmio por entregar um pedaço do seu coração pensando na inconseqüência de um amanhã. É que aqui abaixo da linha do Equador, nós somos inconseqüentes por natureza, por princípio e por finalidade de vida.

Se hoje paro para escrever esse texto não é só por uma questão de tradução de idiomas. É para explicar aquilo que não precisa ser dito. É para encontrar aquilo que não precisa ser procurado. Que está aí e simplesmente é. Amor. Amor de longe, amor de lua, amor de mar que nos separa. É como um pescador que mesmo sabendo do perigo do canto da sereia se joga no mar por não haver outro jeito e por não querer outro jeito.  É que aqui na minha terra é assim. É viver dentro do mar, amar, ao mar e enrolar-se nos cabelos longos e doces de uma felicidade de maré.

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