segunda-feira, 5 de maio de 2014

Oke Oxosse

                 

             Eu sou filho do mato. Meu sangue é de seiva,  minha veia, cipó. Nunca paro. Não tem teto de palha que me cubra. Minha casa fica na planta do meu pé. Sou filho do vento que corre cortando a mata. O meu olho é a flecha. A única flecha. A rápida flecha. Eu sou filho do medo. Da tocaia, da espera, do confronto, da vitória. E da próxima caça. Sempre é a próxima. Sou filho do silêncio. Barulho de folha pisada, galho quebrando, fugindo assustada. Sou filho da folha, da terra húmida, da água da cascata. Peito aberto rompendo floresta. Sou filho da lua, da noite escura, do amor de riacho. Sou filho do velho. Fumaça, maráca, banho de erva. Venho do lugar aonde você nunca vai poder pisar. Calado, sozinho, armado. Eu sou. 
Sou filho do rei.

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