Desculpe, mas sinceramente acho
deprimente o modo como a sociedade, inclusive uma grande massa “instruída”
consome tragédias hoje em dia. Replicam e divulgam imagens de Amarildos, de
Claudias e de tantos outros, transformando-os em heróis pos-mortem. Sinceramente,
não são heróis porque morreram de forma humilhante, de forma absurda. Me parece
tão cruel fazer isso. Longe de menosprezar a tristeza que suas mortes
representam, mas me questiono sobre a maneira como vêm transformando seus
rostos em símbolos, estilizados e enfeitados. Milhares de pessoas vivem no
Brasil de uma maneira tão cruel que faz a morte parecer um caminho suave. Centenas
de moradores de rua, de flagelados da seca, de moradores de lixões, e tantos
outros vivem em seu dia-a-dia uma realidade que a grande maioria de nós não tem
nem sequer a capacidade de imaginar, e muito menos o estômago para enfrentá-las.
Os símbolos são necessários para que possamos questionar e afirmarmos o que
somos e onde estamos, mas devemos tomar cuidado para que esse processo não seja
apenas um chazinho quente para nossa culpa burguesa. Algo que nos faça sentir
justiceiros, conscientes e caridosos. Acredito muito mais nos heróis do
cotidiano, aqueles que estão conosco em todos os momentos das nossas vidas e
que esses sim podem receber de nós as homenagens pela bravura, coragem, força e
determinação que são obrigados a ter para seguirem vivendo. Esse povo que luta
todo dia está do nosso lado. Como diria Nelson Cavaquinho: “Se alguém quiser
fazer por mim, que faça agora.” E aos que se foram de maneira injusta, cruel e absurda
deixo minha indignação e minhas preces.
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