segunda-feira, 24 de março de 2014

"Quando eu me chamar saudade"

Desculpe, mas sinceramente acho deprimente o modo como a sociedade, inclusive uma grande massa “instruída” consome tragédias hoje em dia. Replicam e divulgam imagens de Amarildos, de Claudias e de tantos outros, transformando-os em heróis pos-mortem. Sinceramente, não são heróis porque morreram de forma humilhante, de forma absurda. Me parece tão cruel fazer isso. Longe de menosprezar a tristeza que suas mortes representam, mas me questiono sobre a maneira como vêm transformando seus rostos em símbolos, estilizados e enfeitados. Milhares de pessoas vivem no Brasil de uma maneira tão cruel que faz a morte parecer um caminho suave. Centenas de moradores de rua, de flagelados da seca, de moradores de lixões, e tantos outros vivem em seu dia-a-dia uma realidade que a grande maioria de nós não tem nem sequer a capacidade de imaginar, e muito menos o estômago para enfrentá-las. Os símbolos são necessários para que possamos questionar e afirmarmos o que somos e onde estamos, mas devemos tomar cuidado para que esse processo não seja apenas um chazinho quente para nossa culpa burguesa. Algo que nos faça sentir justiceiros, conscientes e caridosos. Acredito muito mais nos heróis do cotidiano, aqueles que estão conosco em todos os momentos das nossas vidas e que esses sim podem receber de nós as homenagens pela bravura, coragem, força e determinação que são obrigados a ter para seguirem vivendo. Esse povo que luta todo dia está do nosso lado. Como diria Nelson Cavaquinho: “Se alguém quiser fazer por mim, que faça agora.” E aos que se foram de maneira injusta, cruel e absurda deixo minha indignação e minhas preces. 

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