quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Camaleão



Mais é camaleão esse bicho danado para mudar de cor e de galho. E eu que com tempo fui aprendendo a tirar dos meus pés e sonhos a rigidez das âncoras de realidade ainda me impressiono vendo esse fenômeno da natureza.
Mais é camaleão esse bicho danado que mesmo mudando sempre se demora em ser um pouco verde, depois um pouco marrom, um pouco castanho e por aí em diante. Pode mudar sempre, mas não quer. Quer largar-se um pouco em cada lugar, viver, sentir, amar. Ser um camaleão diferente em cada galho que parar. Mais é camaleão aquele bicho danado que não copia tronco, não remeda cor e não se esconde, se transfigura. A pele é a mesma, o olho atento também, a ferramenta-lingua é a mesma, mas o corpo não. Muda e namora cada espécie diferente de casca que passa perto.
Mais zé camaleão um bicho danado que traz de Deus o dom de se mudar. E de tão distraído entre andanças e permanências nunca se deu conta de que é assim. Que essa capacidade de transformar faz parte do que ele é. E quando muda de galho, não carrega concha de caramujo nem casco de tartaruga. Traz a coragem à pele nua.
Mais Zé Camaleão, esse bicho danado, me mostrou muita coisa sobre como viver. Que parar em um galho não é nada, que para ser camaleão temos que ser um pouco como cada galho do caminho, cada folha seca, cada árvore grande. Porque amar é mudar de cor.  Me mostrou que somos o que queremos ser. Basta mudar de galho, basta mudar de vista, basta mudar de vida.
Mais Zé Camaleão, esse bicho danado, quando você pensa que mudou ele já mudou outra vez.

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