quinta-feira, 16 de julho de 2015

Maria Rosa, a catalã

 
 
   Fecha os olhos devagar. Não podia ser diferente. Vai virar estrela, pó de constelação, lembrança de luz. Há quem diga que você foi brava. Há quem diga que severa. Pouco te conheci, é verdade, mas nunca vi isso. Há leões que gritam mais de medo que de ódio. Para mim sempre foi um sorriso, largo e surpreso de quem se entrega à alegria. E com que felicidade de criança você me mostrava sua delicada e dedicada coleção de colheritas, de cachimbos, de xicarazinhas tão finas e frágeis que pareciam poder quebrar com qualquer vento mais forte que entrasse pela janela. Como você. 
Gavetas e gavetas, portas e portas de armário, cheios de saudades, de memórias, que tinham alí seus lugares marcados, na tradição de lembrar-se feliz.A eterna dor de ver no rosto do Cristo Redentor a figura do teu filho. E que beleza poder ver tudo isso com o amor de um neto, que nada tinha de neto, senão o afeto. Bilhetes trocados no mais fino papel em que contávamos amenidades meio sem sentido, separadas por oceano de distância e uma empatia sem explicação. Eram palavras de presença, um jeito de mostrar carinho e nada mais. Lembra da Sardaña? Da Orciatta? e da gargalhada suspensa no ar quando te chamei de "Abuelita"? 

    E hoje  de você, guardo o mais delicado cachimbo. Guardo as cartas que trocavamos na inocência de amigos com mais de meio século de diferença. Guardo a lembrança do brilho dos seus sorrisos. Guardo a sua luz de estrela brilhando fininha pra sempre no meu céu. 

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