Eu acho até meio estranho te chamar de primo. A gente tá
junto desde quando eu nem sabia o que era contar o tempo. Sempre fomos os mais
novos e com isso tivemos todas as mordomias e todos os prejuízos desse posto.
Mas quando eu paro pra pensar, faço a conta de quanta coisa boa a gente viveu
junto. E perco a conta. É tanta neurose de lençol esticado, picolé de férias
que explodia na boca, orelha dobrada pra dentro, Lorena, digo, Cassandra
Lorena...
Aí junta tombo no Caraça com epilepsia de poodle, copo
espalhado pela casa com o Rock in Rio que você não foi, e com aquele Beto
Carreiro que eu não fui. Têm Ronco de rinite, unhada de irmã, revista de
sacanagem, e aquele filho da puta do Brucutu que levou o meu cinto. A sinuqueira, o bet sec, a lasanha da Mèmè e
aquele “andamos todos iguais” de Arraial D’ajuda. Eu tô nessa nostalgia e olha
que eu nem bebi quatro doses ein!
Eu ainda sinto o cheiro da fábrica de biscoito de Valadares...
sinto o frio da barriga daquele dia do “Tobogã” que teu pai foi tão rápido que
batemos com a cabeça no teto do carro. Lembro da gente tentando ouvir mensagens
extraterrestres no rádio dele. E a festa
de formatura da Issa?
É tanta coisa que vem na cabeça que sei lá... as vezes dá
vontade de voltar no tempo e viver tudo de novo. Fazer planos de uma casa muito
louca onde todos nós moraríamos juntos, e onde cada cômodo teria a cara do seu
dono. Me lembro da minha passagem secreta, sempre quis uma casa com passagem
secreta. Ou então, largar tudo e ir viver em Itajaí, que é longe daqui, mas os
médicos e doutores... sem falar nos advogados.
Pronto, me perdi. Mas hoje se eu paro pra lembrar esse monte
de coisas é só pra ter a certeza de que vamos ter muitas outras pra viver. Não sei contar a história da minha vida sem
passar por você e por vocês meus primos. E se hoje, a gente se olhar no espelho
e ver um adulto, uma pessoa séria, cheia de responsabilidades e medos, possamos
nos lembrar da alegria que era a chegada das férias.
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